29 maio 2006

Cemitério de Afetos


"Algumas pessoas deixam de existir em nossas vidas bruscamente, como um golpe de machado. Sua última recordação acaba por ser a rispidez fria da lâmina.

Há pessoas que se suicidam em nossas vidas. Saem de cena soterradas pelo peso de gestos de uma tonelada de torpeza ou suaves palavrinhas fincadas como agulhas no coração.

Sem mencionar o pior dos apartes: a traição, aquela, que todos viram e você foi a última a inteirar-se.

Lembro de uma morte dessas nos meus arquivos. Sua ocorrência encontra-se registrada em algum caderno velho, lembrança longínqua que me diz: sim, houve tal pessoa, mas meu senso de sobrevivência a excluiu solenemente do universo.

O sentimento daquela existência torna-se um dejeto que por vezes orbita a consciência, nada mais.

(Quando isso acontece, uma certeza: tratava-se de uma presença superficial, aquela que se apresenta apenas quando lhe convem ou necessita algo, sem cavar brechas para enterrar as miudezas, as jóias do cotidiano, o único que pode ficar da história de qualquer relação, seja de amor ou amizade, perdida.)

Tenho fantasmas que, se encontrar na rua, irei jurar que é apenas manifestação de mediunidade.

Há pessoas que se matam aos poucos, vão convalescendo, se distanciando um milímetro a mais a cada dia. Estas deixam lembranças que equivalem a um cartão postal ou um retrato na parede.

Há os que se matam com a indelicadeza da rejeição. Telefonemas não atendidos, emails não respondidos. Um belo dia constatamos que não existe mais qualquer vínculo que justifique a sua sobrevida.

Há os amores que insistimos em manter vivos. Entubamos, acoplamos aparelhos modernos, injetamos nosso próprio sangue, abrimos o peito e massageamos o coração. Até a dor daquele sofrimento prolongado se consumar, em falência múltipla dos órgãos ou eutanásia. Agonia insustentável. É uma das poucas mortes sentimentais para as quais reservamos um fio de esperança de ressurreição.

Hoje constatei que carrego em mim um cemitério de afetos vencidos."

Daiany Dantas (blog Pedra na Lua)

2 Comments:

At quarta-feira, maio 31, 2006 1:30:00 AM, Blogger Sheila Campos said...

"Versão do diretor, sem cortes":

Eu amava. Talvez tenha amado como amigo, um dia. Como homem, você sabe que nunca. E cansei definitivamente, toda a minha paciência com você se acabou. Não quero ver, saber, ter notícias, espero que suma, evapore de minha vida, exatamente como há dois anos atrás, quando, simplesmente, não existia e não fazia a menor falta!

Arrependo-me amargamente de ter "dado chance" a uma relação que eu não escolhi; por ter "dado chance" a um homem feio que não me atraía; por ter "dado chance" a um cara de mais de 40 anos que precisou fazer um alarde imenso junto a todos os conhecidos em comum de cada passo que deu para se aproximar de mim! Arrependo-me amargamente de ter compactuado e participado desse tipo de auto-afirmação doentia! Arrependo-me amargamente de não ter sido ainda mais dura, ainda mais fria, e não ter sustentado o meu NÃO.

Arrependo-me a-mar-ga-men-te de ter permancido tanto tempo próxima a alguém que mente descaradamente, habitualmente, que inventa estórias, que não tem coragem de enfrentar os problemas de frente, que é covarde, manipulador, que me chantageia, expõe, trai minha confiança, de alguém que não é minimamente decente. Tenho mais ombridade que você!

Arrependo-me a-mar-ga-men-te de cada minuto depois que o conheci. Que inferno! Nunca enfrentei - e espero nunca mais enfrentar! - situação tão desgastante, constrangedora, tão pública e cheia de mentiras, chantagens, manipulações, artifícios, falseamentos!...

Eu acreditava que, ao lado negro de cada um de nós, corresponde um lado de ofuscante luz. Mas já é tanta a raiva, a irritação, o desgosto que sinto, que não há luz que clareie o quanto sua obscuridade conseguiu destruir tudo.

- E a minha também! Porque não me afastei bem antes, porque não impus mais limites e bem mais cedo, por que fui arrogante e, "modernésima" que era, acreditei que seríamos o "super casal maduro e bem-resolvido que continuaria amicíssimo mesmo depois do namoro encerrado"! Uma lição para eu aprender! Não há maturidade, não há amizade, não há limites claros, só esta imensa porcaria que eu tentei evitar, tentei evitar, sem querer enxergar que, na verdade, cavava ainda mais fundo o buraco que iria me engolir, a cada dia!

Siga em paz. Esqueça minha existência, arranje outra responsável pela sua infelicidade, fale, espalhe, fofoque o quanto quiser: estou me lixando (esta frase está se tornando favorita!). Para o inferno qualquer um que não me queira bem! Não estou pedindo nada a ninguém, e que cada um saiba se colocar na distância devida em relação a mim!

"Boazinha? Vai pensando!" Meu demônio está solto! Já contei que, quando chego ao meu limite, viro um bicho? Um monstro, um ser desprezível! Então, saiba! E não chegue perto ninguém que não queira ser chamuscado!

 
At quarta-feira, maio 31, 2006 1:31:00 AM, Blogger Sheila Campos said...

O texto na íntegra está no meu blog e no "nosso" EX-blog.

Aquele, foi definitivamente encerrado. Como deveria ter sido há muito, muito tempo!

Adeus.

 

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