30 novembro 2006

O quase

"Ainda pior que a convicção do não é a incerteza do talvez, é a desilusão
de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata
trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga,
quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não
amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances
que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita
mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher
uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto.
A resposta eu sei de
cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos
abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados.
Sobra covardia
e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o
desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e
a dor, sentir o nada, mas não são.
Se a virtude estivesse mesmo no meio
termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de
cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia
o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que
todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas
resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória
é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros
fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um
coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor
não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o
medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais
horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando
porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."


Luís Fernando Veríssimo